Cinema português para ver em 2019

Não só de turismo vive o país. Ou de startups. Ou futebol. Dos guiões para o grande ecrã, várias (boas) histórias têm ganho corpo nas salas de cinema do país. Aqui, na Cineplace, convivemos bem com o lema “O que é nacional, é bom”, e, nesse sentido, damos conta do que está em cena e do que o futuro te reserva. Da política, com “Snu”, à música em “Variações”, tocando ainda no futebol com “Diamantino”, há muito para ver e escolher.

Muitas vezes na sombra dos chamados “blockbusters”, o cinema português tem dado passos sólidos na sua afirmação nacional e, sobretudo, internacional, servindo de prova alguns prémios conquistados além fronteiras em tempos recentes. É, por isso, que não queremos que te escape nada no que à produção local diz respeito. Agarra o balde de pipocas: todos os filmes aqui listados estão (ou estarão) a ser exibidos nas salas Cineplace.

“Snu” — Política em forma de cinema

Francisco Sá Carneiro e Snu Abecassis

Ainda hoje se discute a morte de Francisco Sá Carneiro (líder e um dos fundadores do PPD/PSD) através de comissões parlamentares de inquérito à tragédia de Camarate, investigações criminais e outros tantos quinhentos. Debate-se, não amiúde, a sua influência na política nacional pós-25 de Abril e, em alguns casos, na dos dias de hoje. Fala-se menos, muito menos, no seu assumido namoro com Snu. Snu Abecassis.

Uma dinamarquesa que desembarcou em Portugal com a ditadura de Salazar/Marcello Caetano em velocidade de cruzeiro, mas que ousou desafiar o regime através da editora que fundou: D. Quixote e as obras que, obviamente, maldiziam todo um aparelho de Estado há décadas instalado no país e nos territórios ultramarinos.

“Snu”, o filme, tem este enquadramento como pano de fundo, mas foca-se na relação entre aquelas duas personalidades: o ator Pedro Almendra a calçar os sapatos de Francisco Sá-Carneiro e Inês Castel-Branco a fazer de Snu numa brilhante interpretação que inclui cópia de sotaque dinamarquês. A realização dá-se no feminino e traz-nos Patrícia Sequeira ao leme de um barco que segue seguro.

Procura uma sala Cineplace perto de ti e fica a conhecer uma das mais belas histórias de amor passadas em Portugal no século XX.

Gabriel — O boxe como meio de sobrevivência

Depois de Eusébio, em “Ruth”, Igor Regalla aventura-se agora nos ringues de boxe

Com uma estética mais crua e dramática, “Gabriel” conta a história de um jovem cabo-verdiano que viaja até Portugal para procurar o seu pai. Porém, não o encontra. Encontra, sim, uma Lisboa insegura, cheia de preconceito e dificuldades para quem tem bolsos menos forrados.

O filme foi selecionado pelo Festival de Cinema de Locarno, o que atesta a sua qualidade — e, lá está, o tal reconhecimento internacional — sendo que a realização ficou a cargo do estreante Nuno Bernardo. O lugar de destaque na representação vai para o jovem Igor Regalla que, para os menos distraídos, lembrar-se-ão da interpretação que fez de Eusébio da Silva Ferreira em “Ruth”.

Mas, voltando ao boxe e abandonando-o rapidamente, dizer que esta película não é sobre duas pessoas em combate num ringue. É sobre a luta desleal e ilegal que ocorre nas ruas de uma capital demasiado ocupada em maquilhar o seu centro histórico, deixando órfãos os seus bairros periféricos. Neste caso, os Olivais. Em resumo: um filme sobre Portugal e o que cá vivem.

Calça as luvas, senta-te na salas Cineplace e delicia-te com esta longa-metragem made in Portugal.

Ladrões de Tuta e Meia — Rir é o melhor remédio

Rui Unas e Leonor Seixas são um casal de vigaristas

Se procuras gargalhadas no cinema, chegaste ao sítio certo: “Ladrões de Tuta e Meia”, dirigido por Hugo Diogo é uma comédia meio desengonçada — no bom sentido — que envolve um casal à procura da sorte grande enganando um antigo combatente do ultramar!

O casal de vigaristas é interpretado por Rui Unas e Leonor Seixas. Já o militar aposentado é interpretado pelo experiente Carlos Areias. Ah, a narração é de Cândido Mota, num filme que tem ainda no elenco nomes como Vítor de Sousa, Pedro Alves ou Guilherme Leite.

Uma obra que te vai fazer solavancar de um lado para o outro, com a vantagem de não causar desconforto, apenas mais vontade de rir. Está, claro, em cena nos cinemas Cineplace.

Diamantino — futebol e refugiados

Uma estrela de futebol, duas irmãs. Recorda-te algo?

Não uma comédia tradicional. Antes um delírio cómico. É desta forma que quem produziu “Diamantino” o define. Uma longa que fala de uma super-estrela do futebol, em declínio, e que, embalado pelo menor fulgor da carreira, procura uma alternativa para o seu futuro. Essa alternativa passa por auxiliar… refugiados.

Feito um breve resumo do que vais encontrar, é importante referir que “Diamantino” venceu, em 2018, o Grande Prémio da 57ª Semana Crítica em Cannes. O filme, que tem duas cabeças na realização — Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt — e co-produzido entre Portugal, França e Brasil, já foi exibido em mais de 60 festivais, entre os quais o New York Film Festival e Toronto International Film Festival.

Aliado às semelhanças físicas de uma conhecida estrela de futebol com bilhete de identidade português, o filme traz ainda à baila assuntos como o fascismo, alterações genéticas e a já mencionada crise de refugiados. Carloto Cotta é o epicentro de uma narrativa que não podes perder. É, por outro lado, fácil de encontrar: nos cinemas Cineplace, a 4 de abril.

Variações — O barbeiro que virou músico

António Variações durante os ensaios

Era barbeiro, virou músico e, não menos relevante, desconhecia qualquer nota musical. Falamos de António Rodrigues Ribeiro. Nunca ouviste falar? E se dissermos António Variações, os alarmes soam? Pois bem, se está tudo a aguardar a estreia de “Diamantino” pelas ligações ao desporto rei, a expetativa não é menor com “Variações”. A espera é que será maior: estreia a 22 de agosto.

Já muito se falou de António Variações, mas esta obra dirigida por João Maia é bem capaz de ser um dos documentos biográficos mais robustos do cantor. Das viagens a Londres e Amesterdão — onde aprendeu o ofício do pêlo — à excentricidade que emanava sempre que passeava nas ruas mais boémias de Lisboa, a longa metragem incide naquilo que foi o sonho do artista interpretado por Sérgio Praia: tornar-se cantor e compositor.

Cumprido em parte, o sonho foi interrompido pela sua morte, em 1984. Uma peça de História Contemporânea na área da música plasmada na tela de cinema. Em agosto, entre banhos, numa sala Cineplace perto de ti.